Transformers 3: O Lado Oculto da Lua (Transformers: Dark of the Moon, 2011) é tudo o que se esperava de Transformers desde o começo. Depois do fiasco de Transformers 2: A Vingança dos Derrotados (2009), o diretor Michael Bay queria se redimir com um filme que fosse superior e sem as falhas que naufragaram o anterior. Este feito, ele conseguiu realizar com louvor. Transformers 3 é o melhor filme da franquia… com todo o exagero que uma produção de Michael Bay merece!
O longa é uma experiência audiovisual impressionante. Não é um filme perfeito, com muitas falhas de roteiro, reviravoltas às vezes forçadas, alguns personagens subaproveitados (tanto entre os robôs quanto entre os humanos) e um tempo de execução desnecessariamente longo. Todavia, são falhas que, dadas as pretensões do filme, não abalam em nada o espetáculo incomparável despejado na telona. Na verdade, Transformers 3 provoca um efeito que o torna memorável: concede à série um final épico e, como todos sabemos, um bom final sempre é capaz de sobrepujar os erros ao longo da caminho. Esta continuação não é de forma alguma uma tentativa de contar uma história complicada como foi o segundo, mas sim o grande ponto onde toda a saga desenvolvida ao longo dos dois primeiros culmina. Para que os grandes momentos (seja num filme, num livro, ou mesmo na vida) façam sentido, é importante saber como as coisas aconteceram até chegar aquele ápice. Tendo isso em mente, você provavelmente vai sair do cinema satisfeito com a ideia de que ganhou um bom final e de que, como um todo, a franquia vale a pena — você será capaz até mesmo de ignorar os problemas de Transformers 2 e considerá-lo parte importante nesta grande obra, afinal, foi aprendendo com os erros de antes que os acertos apareceram.
O Lado Escuro da Lua, como o nome deixa óbvio, gira em torno de uma conspiração de meio século envolvendo a corrida espacial da década de 60, que era na verdade uma resposta a uma nave perdida dos Autobots que caiu na superfície da lua — a mítica Arca. Assim, a missão Apollo 11 não era apenas para chegar à lua antes dos soviéticos, mas para investigar e recuperar a possível tecnologia extraterrestre localizada em solo lunar. A conspiração, aliás, é um dos pontos bem trabalhados do roteiro, com um registro histórico que dá gosto de ver; a participação do segundo homem a pisar na lua, o ex-astronauta Buzz Aldrin, torna tudo ainda mais interessante. Com o reaparecimento da Arca nos dias atuais, os Autobots, agora aliados dos humanos e liderados pelo Coronel William Lennox (Josh Duhamel), são forçados a enfrentar um grandioso plano dos Decepticons que pode levar à aniquilação de todo o planeta. Neste cenário preocupante, antigos aliados acabam novamente envolvidos no fogo cruzado entre os robôs alienígenas, como Sam Witwicky (Shia LaBeouf) e sua nova namorada Carly (Rosie Huntington-Whiteley).
A história, ao contrário do que acontece nos filmes anteriores, serve como um pano de fundo que move adequadamente as peças que levam à ação, ao invés de simplesmente preencher o tempo entre uma explosão e outra. O roteiro é mais coerente e melhor explorado sob a ótica da pura ficção-científica, afinal os Transformers são robôs ALIENÍGENAS, um detalhe que muitos esquecem talvez por grande parte do enredo estar centrado na Terra. O fato é que faltava uma invasão alienígena de proporções apocalípticas, mas agora não falta mais. O terceiro ato apresenta a ideia e insere os robôs como ponto divergente das histórias convencionais de invasão extraterrestre, embora muitos clichês ainda estejam lá, como a superação dos humanos perante os invasores e a clássica exaltação do patriotismo. A invasão abre uma oportunidade sem precedentes na franquia para os humanos demonstrarem seu valor. Finalmente, podemos presenciar o verdadeiro potencial dos humanos no combate contra os robôs inimigos. Muito da trama gira em torno desta capacidade do ser humano de aprender com seus erros e superar os obstáculos que levam ao seu crescimento como indivíduo. Esta atmosfera de guerra e o clima de fechamento da história, no entanto, trazem consequências drásticas: o número de mortos entre os personagens mais reconhecidos é maior e alguns sucumbem de forma chocante e brutal.
O grande problema do longa é sua duração exagerada (153 minutos), que torna o início arrastado demais e salienta muitos furos de roteiro causados pelo excesso de narrativas paralelas e reviravoltas. Outra questão que atrapalha no ritmo é o dramalhão humano que Michael Bay tenta sempre explorar em seus filmes. Infelizmente, o negócio dele é ação, não drama (quem viu Pearl Harbor2001, por exemplo, sabe do que estou falando). O diretor ainda tenta encontrar um lugar para o personagem-central Sam, mas ele parece deslocado ante os conflitos entre sua vida pessoal e sua vida como salvador do mundo; mas há de se concordar que ele tem momentos realmente engraçados, especialmente quando sua mãe entra em cena. A surpresa fica por conta do acréscimo bem-vindo de Rosie Huntington-Whiteley no time, que, apesar de ser este seu primeiro trabalho como atriz, consegue se sair melhor do que sua antecessora em cena e ainda acrescenta mais para a trama e para o personagem de Shia LaBeouf. Sua personagem, Carly, é bonita, sexy, carismática e destemida e nitidamente melhor aproveitada do que a anterior. A verdade é que Megan Fox não faz falta! No lado cômico, John Malkovich oferece momentos impagáveis e John Turturro retorna com um humor mais contido e genuíno, sem os exageros deprimentes cometidos em A Vingança dos Derrotados. Para completar, temos os astros da franquia: os robôs. Optimus Prime, Bumblebee e Sidewipe, bem como Megatron, Starscream e Soundwave, entre outros, estão de volta mais estilizados e ativos. A carroceria de Optimus que se transforma em um arsenal é muito legal. Outro destaque é o infame vilão Shockwave, uma aberração robótica repleta de tentáculos gigantes que proporciona boa parte das cenas mais destrutivas e tensas do filme. Também é apresentado o mentor de Optimus, Sentinel Prime (no original, com a voz de Leonard Nimoy, o eterno Doutor Spock de Jornada nas Estrelas).
O terceiro ato demora a chegar, mas quando acontece é gratificante. A hora final de Transformers 3 é uma sequencia sensacional de ação frenética, efeitos visuais espetaculares e utilização inspirada do 3D… tudo isso acompanhado de batalhas épicas entre Autobots e Decepticons. Você vai estar tão extasiado com as cenas que sequer vai se preocupar com os absurdos de alguns acontecimentos. Michael Bay também melhora seu trabalho com a câmera, oferecendo planos e enquadramentos de cair o queixo. O diretor acerta até mesmo na utilização da câmera lenta, um recurso normalmente mal explorado pelos cineastas. Neste filme, a câmera lenta é aplicada com a finalidade louvável de desacelerar as cenas de ação no momento certo para permitir um melhor aproveitamento do 3D e consegue fazê-lo com eficiência e exatidão. Mérito para Michael Bay e também para Steven Spielberg, que atua como produtor da franquia e foi um dos entusiastas do 3D em Transformers 3. Por fim, cabe ressaltar a ótima trilha sonora do filme, encabeçada por bandas como Linkin Park, Goo Goo Dolls, My Chemical Romance, Paramore e Skillet.
Transformers: O Lado Oculto da Lua é um arrasa-quarteirão que fecha a saga com dignidade. Acima de tudo, é parte de uma história maior e divertida de se acompanhar. A trilogia mostra porque Transformers é, desde a década de 80, uma expressão pura de entretenimento: robôs que se transformam em carros com cenas de ação alucinantes e pancadaria épica. O que pode ser mais legal do que isto?!