Machete é uma espécie de spin-off de GrindHouse, o longa produzido em 2007 numa parceria entre Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. A proposta de GrindHouse era simples: dois filmes dentro de um só, parecido com as sessões duplas de cinema que eram moda na década de 70. Os dois filmes eram intercalados por alguns trailers falsos, dentre os quais estava o sensacional (e hilariante) Machete.
GrindHouse, no entanto, foi vítima de uma das maiores sacanagens do cinema. Sua estreia nos EUA foi um fracasso e, por isso, o filme foi separado em duas partes, cada uma, distribuída de forma independente. A primeira, Planeta Terror, foi lançada no Brasil em 2008 de forma modesta, enquanto a segunda, À Prova de Morte, surgiu por aqui somente esse ano. Graças a essa confusão, grande parte do público brasileiro nunca assistiu aos trailers falsos. Na sala de cinema onde vi o filme, era nítido que muitas pessoas não faziam ideia do que estava realmente passando diante dos seus olhos.
Para os fãs, que correram atrás do prejuízo, o impacto foi outro. Machete foi uma realização extravasada sob a forma de risos em momentos chaves, gritos de empolgação e palmas… muitas palmas. No final da projeção, o público da sala (eu, inclusive) ovacionou o longa com aplausos acalorados de quem esperou muito para ver a consumação de um desejo — ver aquele trailer FODÁSTICO se transformar num filme FODÁSTICO!
Fico até emocionado…
A história é a mesma contada no trailer falso, mas esplendidamente desenvolvida. Machete (Danny Trejo) é um ex-agente federal mexicano que, após ser traído por seus superiores e ter sua família morta, foge para os Estados Unidos como um imigrante ilegal. Nas ruas, ele é contratado por Michael Booth (Jeff Fahey) para assassinar o conservador senador McLaughlin (Robert De Niro). Porém, ele é traído por seu contratante e se vê perseguido pela policial Sartana Rivera (Jessica Alba) e pelo chefão do tráfico Torrez (Steven Seagal).
O filme é trabalhado de forma parecida com GrindHouse: aspecto velho, clima trash, roteiro tosco e muito non-sense. O diretor Robert Rodriguez abusa de todos os recursos disponíveis em sua hemorragia iconográfica. Personagens caricatos, pirotecnia exagerada, mutilações sangrentas, letreiros berrantes, efeitos sonoros engraçados, locução bizarra, propagandas escrotas, situações ridículas e mulheres gostosas — tudo em Machete leva o espectador a sentir a atmosfera dos filmes B setentistas. Não obstante, o diretor ainda trabalha seu eterno apego à cultura mexicana e o apimenta com um ponto-de-vista cínico sobre a exploração do trabalho mexicano nos EUA; se você acha que Machete é só ação e violência… pense de novo! Machete tem o toque burlesco de El Mariachi (1992), do próprio Rodriguez, mas também é carregado por uma crítica social que lembra muito Viva Zapata! (1952).
Mas, não é só por isso que Machete é bom.
As sequências emulam fielmente várias situações apresentadas no trailer falso. Machete pegando a esposa e a filha de seu contratante traidor na piscina, o padre com sua escopeta — Deus tem piedade, eu não — e a moto com a metralhadora giratória são apenas alguns dos momentos chaves que levaram os fãs à loucura.
A porradaria é desenfreada e divertida. Em alguns momentos, é impossível segurar o riso. Machete é extremamente criativo na matança, principalmente quando munido de sua estimada machete (por que vocês acham que ele tem este nome?). Quando não está com ela, é mais foda ainda, porque… MACHETE IMPROVISA!
O elenco parece estar bastante à vontade. Danny Trejo é o master motherfucker; Steven Seagal está fodão como sempre, embora seja um vilão (raridade em sua carreira); Cheech Marin garante as cenas mais engraçadas do longa com seu padre; Don Johnson está canastrão (com costeletas); e Robert De Niro está impagável com seu senador racista e porra-louca.
As gostosas são um espetáculo à parte. Michelle Rodriguez, toda boa; Lindsay Lohan, pagando peitinho (e arrancando gritos de garotas no cinema… isso mesmo, de garotas); enfermeiras safadas com metralhadoras; japinhas de biquíni; e… Jessica Alba, linda e sexy, a despeito de sua cena falsa de nudez no chuveiro (que é até aceitável num filme baseado num trailer falso :-P).
Mas, ainda não é só por isso que Machete é bom.
A melhor parte é ele… MACHETE!
Machete sabe como fazer.
Ele pega as mulheres.
E ele mata os caras maus.
Eles, simplesmente, foderam com o mexicano errado.
Se você ainda não viu no Festival do Rio, corra que ainda dá tempo. Se mesmo assim não conseguir, arrume um jeito de assistir. Esse é um filme que você PRECISA ver.
MACHETE JÁ É UMA LENDA!